quinta-feira, 2 de maio de 2019

Lua Rosa
São dias calmos, estou deitado de vermelho e peito aberto. Ouço um lindo som de tambores graves ao longe... Meu olhos começam a bater junto... buscando o som. E o ruído vai aumentando e cada vez gosto mais! Saio em sua direção e vou acelerando o passo. Há uma lua rosa no céu deixando tudo claro, como dia, olho para todos os lados e não sei precisar exatamente de que direção vem as batidas espessas e fortes. Mas elas começam a me tomar de um jeito instigante, vou me envolvendo nesse som antes mesmo de saber de que toque ele é feito. Meu compromisso com o som torna-se algo sério até que, num instante, paralisado, os olhos se abrem ainda mais... como que se fossem capazes de enxergar ainda mais. As mãos descem para estarem paralelas ao corpo e os pés deixam todo o corpo  pesar contra o chão. Nessa hora, como que num ataque súbito invertem-se alguns polos e recebo um soco de informações, das mais escandalosas e assustadoras. Com o que vejo agora eu me sinto enganado! Talvez porque me permiti envolver tanto por essa batidas e corri atrás delas e dei a meu corpo e coração todo o torpor dessa batida estrondosa. Quando descubro que após o meu movimento em direção a esse hipnotizante som fez com que esse mesmo som invertesse o sentido e viesse agora em minha direção, antes, um som que só eu ouvia e agora uma imagem que só eu vejo. É uma manada!!!!!! Uma manada imensa! São milhares de búfalos grandes correndo em minha direção com tanta força que remonta uma cena tão bela quanto aterrorizante. Eu não sei o que fazer! Olho para eles paralisado, os encaro, mas eles me intimidam, começo a correr e a pensar em como conter esse fluxo de força. O ar começa a ficar pesado, denso de poeira levantada do chão e odor do animais. O ruído é tão intenso que não consigo mais nem mesmo me ouvir. Estou tomado pelo acontecimento que ao que tudo indica meu peito aberto, em vermelho, atraiu. Sigo em frente com coração acelerado mas eles estão comigo, lado a lado e me assustam! Tento enxergar algo, mas o ar está turvo... tento buscar algo a que eu possa me agarrar até que avisto qualquer coisa com formas simétricas, típicas da ação humana, seria um redil? Um grande estábulo? Um curral! Meu peito já está acelerado e sinto uma dor imensa nele. Não consigo pensar em mais nada e os tempos dos dias calmos se vão e penso que talvez eu nunca mais os sentirei. Estou aproximando do curral, vejo uma enorme porteira aberta e penso em atrai-los para dentro, não sei ao certo qual seria o próximo passo dessa estratégia de sobrevivência mas sinto que, no momento, é o que devo fazer. Devo colocá-los diante de mim, contê-los! Depois que entro, todos começam a entrar e começam a se acalmar. Paro dentro do curral num recuo um pouco elevado. Eu ainda não consigo enxergar muita coisa, há muita poeira no ar e não posso ainda tomar nenhuma decisão. Não consigo nem ao menos respirar direito. Há um cheiro forte de terra no ar e um cheiro de pêlos e suor animalesco. Estou ainda enebriado e sedado com aquele cheiro, com aquele som, com aquela visão. Mas espero até que a poeira baixe para tomar qualquer decisão. Começo a me ver sobre o recuo onde me posiciono e de onde estou começo também a encarar aquela manada. Ela realmente é aterradora! Começo a ver suas cabeças se acalmando em movimentos para cima e para baixo. Vejo uma fêmea com tetas enormes a jorrar leite e enormes chifres altivos em movimentos cada vez mais lentos. Vejo esses animais nos olhos, os encaro, admito sua força e grandeza e me acalmando reconheço também a minha força, a minha sagacidade e domínio. Me reconheço neles e os reconheço em mim. Reconheço que todos estamos numa mesma enorme esfera de vida colorida assim como somos um borrão num imenso universo de cores e formas desconhecidas. Somos todos parte de um todo e somos partes distintas uma da outra e que temos intervenções um sobre o outro de maneiras diferentes. Volto meu olhar para meu peito vermelho e impressionado comigo mesmo percebo o poder de atração de um coração aberto e o peso e força daquilo que ele pode trazer para si. Reconheço que quando sou tomado por uma atração assim, só mesmo após sentir o gosto, ouvir os sons, sentir o cheiro e esperar até que a poeira baixe, só nesse momento e após tudo isso posso entender o que atraí e com o ar limpo posso ver claramente onde estou e ainda posso perceber como, astutamente, conduzi meu peito aberto para esse novo lugar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018


Ao acordar

ouço músicas 
e elas vem de longe
e cada melodia me encanta 
de um modo estranho
sinto que estou entrando num espaço novo
onde suas mãos dançam lentamente
em minha direção

me viro novamente 
e sua sombra
em silêncio

tambores batem contra os aviões no céu
movo o queixo para te morder
sei que seus mamilos se enrigessem
mexem-se e se excitam

venha comigo
sei de um lugar seguro
onde poderemos viver todos
todos os prazeres que foram adiados

éramos tao jovens para entender
éramos ingenuos demais para saber
vc veio em minha direção 
e foi tudo tao rápido
tardes juntos
noites quentes
manhãs calorosas
a cidade era nossa
e nada nos impedia

nossa casa tem essa luz
a luz do sol que entra de manhã
vejo vc acordar lentamente
sua pele macia na cama
pouco tecido sobre o corpo
sua carne salta

sorriso nos olhos
como poderíamos saber
o que estava por vir
como saberíamos?
se éramos tão ocupados 
em viver pelo gosto

gosto de te ver deitada na cama
quase descoberta
quase sem roupa

a noite toda quente...
acordada
deixo o luz suave entrar pela cortina em movimento
deixo a brisa leve tocar seu corpo descoberto

como se não bastasse 
ter vc a noite toda
quero seu corpo numa moldura
quero vc numa foto 
fotografo vc 
mas prefiro morder vc
não quero dizer nada
nós já sabemos 
e só precisamos do nosso encaixe
nosso encaixe perfeito
porque fazemos bem
e fazemos daquele jeito que sabemos
não estaremos sozinhos
não estaremos sempre juntos
e não precisamos mais do que isso
porque eu sei
e vc também
que temos algo muito bom assim
temos nossa sociedade
temos nosso acordo
nosso consentimento
e nossa magia 
e tudo está entre nós
e se dissolve nos lençóis
e nos encostamos
e perdemos o horário
e sabemos de tudo
e não queremos saber de nada
e sabemos de tudo 
e não queremos saber de nada
amiga minha senta aqui comigo
mas se aproxime devagar
e apenas faça como deve ser
e apenas deixe que tudo corra
com prazer




sou ser em transição
metamorfoseando
ontem eu era crente 
hoje sou ainda mais

Seu perdão


Desculpe babe
Eu estava sentado
Esperando um trem que não existe
Estive tanto tempo deitado na ilusão
Quanto me levantei
Vi a realidade
Desculpe neném
O rio da vida me fez mentir
Por achar que assim seria mais fácil
E por um tempo foi fácil
Me enganei e menti
Principalmente para mim mesmo
E me esquivei dos meus sonhos
Por temer a decepção
Fiz de mim cavaleiro
Andando por aí mascarado
E descobri que é preciso ter coragem
Para viver e ser verdadeiro
É preciso pés no chão
Coragem pulsante
E olhos para o céu


TUDO passa...

nada me pertence

tudo é
im 
     per 
ma 
           nen 
Te


deixa ser 
como será não sei
não há como prever

deixa ser
só o tempo vem dizer
como folhas no chão 
logo as flores virão

deixa ir
a mágoa e o que
 fez ferir

deixa rir
e o riso vem solto
para curar 

coragem é decidir
e se livrar do que
 nos impede de ir


Deixa ir a mágoa e o que faz ferir
Deixar rir que o riso frouxo faz curar
E faz sorrir
Curar e sorrir


Você é um vulcão escorrendo ácidos sonhos selvagens!